segunda-feira, 26 de julho de 2010

Hiato

Não escrevia, desenhava ou ouvia música. Há algum tempo não suspirava, e as gargalhadas tinham dentes demais. Cãibra no sorriso, pulmões cheios de concreto, argila correndo nas artérias; Na cidade branca e asséptica só sentia e sentia, afogando-se no turbilhão de mágoa e nostalgia de si mesma, enquanto no carro encostava a mão no vidro frio. Contava os postes e torcia para a súbita guinada do volante. A cidade vazia quase gritava por alguma explosão, talvez com rastros de sangue no asfalto: sumiriam rápido, engolidos pelo ar seco por qualquer indício humano em seus horizontes infinitos e estéreis.