segunda-feira, 4 de abril de 2011

Do cigarro

Fumo porque na minha barriga tem uma brasa.
Queima e fura minhas tripas, chega bem perto do meu coração.
Quase acende o pavio e liberta paixões,
monstros
ciganos.

Por baixo da minha blusa tem uma brasa,
passeando pela pele pálida,
queimando pelos caminhos.

No meu hálito tem fuligem,
cada inspiração atiça mais o pequeno sol:
espia pelo meu umbigo a umidade podre do mundo.
Esconde-se então, bem lá no estômago seco,
E tenta digerir sozinho os estoques de mágoa.

Fumo pra minha brasa fingir que sai
Tento colocar sujeira no ar,
mas ele continua
puro
leve
distante.

Tudo que resta é a vontade de apagar a guimba no braço macio.