quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Reencontro





            Comecei a ler, e era frio. Meu riso passava por uma calmaria branca, e flutuava no silêncio das madrugadas. Um quintal vazio, com brinquedos ligeiramente molhados e seus fantasmas de risos e brincadeira, neblina e desencontros. Olhei meus suspiros de longe, e estendi minha mão para eles. Eles olharam e riram com nuvens nos olhos. Lembrei de cada um deles, sapateando no meu céu da boca, espalhando com as mãos o que sempre achei ser etéreo. Navegaram por um instante, e deixaram nos meus dentes as marcas de mil pequenas unhas. Continuei lendo, cada linha abrindo as fechaduras, uma por uma. Várias rangeram alto, agoniadas, com sono e ferrugem nas pálpebras. O ar se esquentava rapidamente nos meus pulmões, transformando voz em vapor silencioso. Continuei lendo, sentindo meus dedos do pé e a textura do interior de minhas bochechas. Frio, e o sangue pulsando mais rápido para tentar aquecer a ponta do meu nariz, agora dormente. O papel estava ligeiramente amassado nas pontas, e o som dos meus dedos passando na folha cantava junto com a grama. Cheguei ao final do texto, e a falta que ele iria me fazer foi doce e gentil, pequeno passarinho morrendo e levantando voo ao mesmo tempo. Dobrei a folha, coloquei no bolso do casaco, reprimi um grito com um cigarro e observei a fumaça azul desaparecer aos poucos.