quarta-feira, 6 de maio de 2009

Flutuando

Nunca realmente soube o porquê dessas linhas. Elas sempre apareceram entremeadas em idéias "repentinas", fingindo ser novas diante de todo este nada, do vazio que tento esconder atrás de futilidades e lugares comuns.
Hoje existi novamente, com a mesma hesitação de sempre, como se num suspiro pudesse deixar escapar essa frágil teia que os outros chamam por meu nome; Esse véu incapaz de esconder minha nudez.
Gostaria de ser sólida, maciça, de pisar o chão e fecundar a existência com versos fortes e inspiradores, à guisa dos grandes mestres mortos que assombram minhas manhãs. Mas minhas palavras não têm peso, e flutuam a contragosto num ar denso demais, ar que não enche meus pulmões, ar que afoga ao invés de salvar.
Por vezes reúno timidamente significados, fingindo opacidade na poça transparente que eu chamo de eu. Transparência frágil de plástico vagabundo, de vodca barata, de senso comum e medianidade. Sofrimento em tabletes embalados separadamente. Ignoro sua superficialidade, a repetição incansável mordendo meus calcanhares, a maquiagem mal feita que na verdade expõe rugas e olhos inchados. E regurgito o mesmo tema odiosamente metalinguístico, baço de tanto uso, derretido entre tantas comparações. O que escondo com isso, nos textos, será também nada ou se mostrará como só mais uma pequena coisa, insignificante e solitária?





2 comentários:

Ennila disse...

'Gostaria de ser sólida, maciça, de pisar o chão e fecundar a existência com versos fortes e inspiradores, à guisa dos grandes mestres mortos que assombram minhas manhãs.'

És.

A foto é do filme de uma mulher que encolhe até desaparecer? Seu desaparecimento é representado no filme por meio de um pedaço de papel ou de plástico vagabundo sendo levado pelo vento. Não chega a tocar o chão e nem alça voo. Não morre, parece existir num entremeio qualquer. É um pedaço de lixo no meio da rua.

Tiago A. disse...

Adorei seu texto. Muito, muito mesmo. Talvez haja quem pense que sobrepor ao "tema odiosamente metalinguístico" outra camada de "meta" seja se distanciar, fugir. Em seu texto não, essa operação vai em sentido contrário: desnuda.