segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Bom dia

Não sabia o que dizer, o que pensar. Violência, claro; Antiga, a mesma que a retirara do útero. Os olhos, abertos e cegos por toda aquela luz. Os ouvidos, repentinamente alertas. Ambos imersos num nada irracional de susto; sufocados por todo aquele monte de informação crua, dolorosa, desnecessária. As ondas sonoras se mesclavam, mecânicas que são, aos seus sentidos, ansiosos por deixarem sua primeira função e voltarem à segurança quente das cobertas. Exatamente a mesma força, a mesma viril e bruta força que a puxara de uma só vez pelo corte na barriga. Não sabia o que dizer, mas sabia como: o grito saiu então como quem respira, natural, límpido e claro. Saiu, como quem nasce, em busca de algo para cessar tudo aquilo, se erguendo numa cortina que fingia ser muro. Achando que em um grito se podia engolir o mundo, com todas as suas velharias. Tolice. Então, o medo, medo da montanha de raiva e pêlos que agora se impunha diante dela, pulsos em riste, ameaças gritadas e pequenas bolas de cuspe se grudando em seus globos oculares. Não ousou sequer piscar, e a face dele adquiriu o formato de algum tipo de aberração achada em livros de rpg. Nova velha violência, e o silêncio. Bom dia.

Um comentário:

Anônimo disse...

vc escreve aqui ainda... faz tempo que eu não passava aqui =)