Para Tiago.
Encaro seu perfil por cima do beliche. Você morde o lábio inferior enquanto devora o livro, as últimas páginas convulsivas clamando o fim da história. Os olhos continuam metódicos, o pulso segurando o exemplar firme, a respiração presa nas últimas palavras. Eu já li esse livro, mas há tanto tempo que apenas a trama principal e algumas cenas ainda permanecem, formando a conhecida fotografia velha que é tanto do que já li. Não consegui identificar o desfecho no seu cenho ligeiramente franzido, na mão segurando a testa, quase um aceno involuntário a todos os personagens. Falhei e pergunto-me quanto daquelas palavras ainda me pertencem. Você não se satisfez, e relê novamente o último capítulo. Prolongando o gozo, talvez? Ou adiando o luto pelos personagens, pelo lento esquecimento das letras?
Agora a mão livre vai à boca às costas, aos cabelos, aceleram-se as pernas inquietas. O aceno vira orgasmo contido, vontade de explodir feliz com as novas informações e os dedos roídos. Seus olhos e boca encerram toda a sensualidade do mundo, no derradeiro suspiro de Um Jogador. Eu não sou nada além da observadora presença fantasmagórica, e percebo na sua postura corporal o envolvimento que nunca conseguirei de você. Eu corpo, versus livro, ideia. Eu de calcinha e camiseta velha contra toda a Rússia gelada de Dostoiévski. Era um caso pra despeito, ciúme infantil talvez. Sorrio lentamente enquanto digito, a minha deficiência frente às páginas duplamente cômica por remeter a outros livros. Terei sempre este mediador físico a me forçar a existir limitada, e seus olhos em mim jamais mergulharão tanto quanto nestas linhas negras. Quais serão as instâncias, entretanto, que um corpo tatua em outro?
Encaro seu perfil por cima do beliche. Você morde o lábio inferior enquanto devora o livro, as últimas páginas convulsivas clamando o fim da história. Os olhos continuam metódicos, o pulso segurando o exemplar firme, a respiração presa nas últimas palavras. Eu já li esse livro, mas há tanto tempo que apenas a trama principal e algumas cenas ainda permanecem, formando a conhecida fotografia velha que é tanto do que já li. Não consegui identificar o desfecho no seu cenho ligeiramente franzido, na mão segurando a testa, quase um aceno involuntário a todos os personagens. Falhei e pergunto-me quanto daquelas palavras ainda me pertencem. Você não se satisfez, e relê novamente o último capítulo. Prolongando o gozo, talvez? Ou adiando o luto pelos personagens, pelo lento esquecimento das letras?
Agora a mão livre vai à boca às costas, aos cabelos, aceleram-se as pernas inquietas. O aceno vira orgasmo contido, vontade de explodir feliz com as novas informações e os dedos roídos. Seus olhos e boca encerram toda a sensualidade do mundo, no derradeiro suspiro de Um Jogador. Eu não sou nada além da observadora presença fantasmagórica, e percebo na sua postura corporal o envolvimento que nunca conseguirei de você. Eu corpo, versus livro, ideia. Eu de calcinha e camiseta velha contra toda a Rússia gelada de Dostoiévski. Era um caso pra despeito, ciúme infantil talvez. Sorrio lentamente enquanto digito, a minha deficiência frente às páginas duplamente cômica por remeter a outros livros. Terei sempre este mediador físico a me forçar a existir limitada, e seus olhos em mim jamais mergulharão tanto quanto nestas linhas negras. Quais serão as instâncias, entretanto, que um corpo tatua em outro?
Um comentário:
Uia... que (in)tenso! ><
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