segunda-feira, 19 de abril de 2010

...Oi?

Você não vai escrever nada. Você não vai conseguir traduzir em palavras o abraço, os barulhos, o cheiro confuso das lembranças que achou terem morrido. Tentará escrever qualquer coisa que dissipe um pouco essa fome, o fôlego infinito por um momento que deveria ter eco em muitos mais, mas que precisa bastar-se. Você não vai conseguir, mas terá que escrever, na mesma madrugada em que tudo aconteceu, com a garganta ardida pela falta de cigarros, o peito vazio e feliz pelo extrair gradual das mágoas. Elas sairão, deixando aparecer e encherem-se de água salgada as pegadas fundas de saudade reprimida, improváveis tulipas vermelhas bem no meio do cerrado. E as possibilidades, em dúvida, perguntarão tímidas entre si o que aconteceu hoje, o que as reencarnou com um gesto. Elas não terão resposta, e você escreverá para tentar prever inutilmente em que elas desdobrarão, escreverá para tentar traçar caminhos virtuais , racionalizando o que não se pode racionalizar, e escreverá, sobretudo, para deslizar por si e conseguir visualizar um pouco de tudo o que aconteceu, olhando de esguelha para um projeto que começa a renascer.

2 comentários:

Nida Ollem disse...

Olha que engraçado. No exato momento em que lia este seu texto, sugada por ele, vejo que acabara de chegar um novo e-mail. Era seu comentário pro meu último texto. Sorri e fiquei querendo um abraço.

_O_

Dona Beltrana disse...

Uma das minhas coisas favoritas é ver as voltas que o mundo dá... me intriga o porquê ser necessária 1 - às vezes 1000 - voltas para as coisas ficarem mais claras e tomarem seu prumo...
Senti sua falta nesses 1000 dias!